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sábado, 11 de junho de 2016

As próximas eleições: o que está em jogo?

Estamos em pleno ano pré-eleitoral e as próximas eleições serão decisivas para o futuro do no nosso país e da ilha. O país encontra-se na maior “encruzilhada” da sua história, pois, é chegado a hora dos investimentos realizados no capital humano, na educação, na infraestruturação do país, no processo de transformação, começarem a ter impacto real no desenvolvimento do arquipélago e substituírem o endividamento externo pela criação de riqueza. Ao mesmo tempo o país é hoje confrontado com uma série de problemas aos quais urge uma resposta credível. A nível local o desemprego abunda, a falta de uma estratégia coerente de desenvolvimento atrasou substancialmente o crescimento económico em comparação com as outras ilhas. 
As eleições são sempre um momento importantes da vida democrática: é a altura dos cidadãos escolherem o rumo que querem dar a sua pátria. Todavia, em Cabo Verde, o debate programático e político, tem ficado num patamar inferior enquanto pequenos factos pessoais dos políticos têm marcado as campanhas eleitorais. Face a este histórico e perante a conjuntura é importante que os cidadãos se esforcem para exigirem dos políticos programas eleitorais credíveis e que consigam dar resposta as demandas da população.
Cabo Verde tem feito um percurso fantástico: somos um país relativamente jovem e que tem conseguido ao longo dos anos ter um desenvolvimento consolidado ao longo dos anos, sendo esse processo marcado por uma estratégia de transformação, tendo por base uma visão que o país possa se tornar num centro internacional de prestação de serviços. Essa visão, quase unanime na sociedade, requer nos próximos  anos um aumento da produtividade nacional para que o país possa competir num mundo tão exigente.
Apesar dos muitos ganhos que o país conseguiu nas últimas décadas encontramo-nos hoje numa encruzilhada: mesmo tendo feito um percurso notável, os problemas sociais ainda estão aí para serem resolvidos, num cenário internacional pouco favorável ao apoio exterior. Se por um lado o nosso maior aliado internacional e o nosso maior parceiro económico, a União Europeia, se encontra em crise, a graduação do país como país de rendimento médio trouxe importantes desafios no tocante a busca de mecanismos de financiamento.
Os desafios são enormes, num país onde o desemprego estrutural abala os sonhos de uma juventude lutadora e sonhadora.
Perante este cenário, as próximas eleições serão decisivas para o futuro do país e requerem estratégias que consigam alavancar o crescimento económico de forma consistente. Os desafios que o país tem pela frente só poderão ser consolidados se cada ilha conseguir ter uma economia local que consiga ser uma mais-valia para o país.
Jonathan Vieira.



As Manifestações em Cabo Verde e as Suas Consequências no Panorama Político

As manifestações que, recentemente, ocorreram em cabo Verde não deixaram ninguém indiferente e marcarão uma nova era na política Cabo-verdiana, passando a sociedade civil a desempenhar o seu papel de fiscalização da ação política nacional. Por outro lado, um dos desafios para a consolidação da nossa democracia é termos uma sociedade civil vibrante e participativa nas decisões políticas. A aprovação do Estatuto dos titulares dos cargos políticos já contribuiu e irá contribuir, decisivamente, para que o país avance uns degraus neste longo trajeto de consolidação democrática.
Apesar destas movimentações em todo Cabo Verde, na Brava, tudo ao ritmo da morna. Todavia, somos a ilha onde as manifestações faziam mais sentido e era não só pelos Estatuto dos titulares dos cargos políticos, mas pela situação económica e social gritante pelo qual a ilha enfrenta de uns tempos para cá. Porém, nem sempre foi assim, quem não se lembra da manifestação por causa do motor velho na furna? Sim, quando queremos conseguimos nos unir e resolver os nossos problemas.
O povo foi à rua e demonstrou o seu descontentamento pela conjuntura onde os privilegiados “deputados” querem, não atualizar, mas aumentar o seu salário. Não podemos permitir que um país com uma elevada desigualdade social, dado aos parcos rendimentos que a camada menos favorecida detém, aumente o fosse entre a sociedade e os seus representantes.
A aprovação do Estatuto dos titulares dos cargos políticos demonstrou o quanto os deputados da nação estão afastados dos seus representados, não só, em termos do rendimento disponível, mas também, da própria perceção da realidade. Na presente conjuntura, ganhar o montante que os atuais deputados ganham, é o que o país pode oferecer para quem quer representar o seu povo e trabalhar a bem da nação.
A única justificação para a subida do salário na casa parlamentar se assemelha com aquela atitude: " o outro ganha mais do que eu", neste caso, alguns gestores de empresas públicas que ganham mais do que os deputados. Todavia, isto não justifica que perante a situação económica e social do país se aumente os salários dos titulares dos cargos políticos. É preciso haver equilíbrio entre o nível de vida dos cidadãos, a riqueza gerada pelo país e os salários dos titulares dos cargos políticos.
Se o país pode aumentar o salário dos deputados, porque não usar este mesmo montante para criar mais postos de trabalho e empregar mais jovens? Sim, porque pode-se, de facto, dignificar mais os cargos políticos sem ter que, necessariamente, aumentar os salários.
Fazendo uma leitura política, era pouco provável que o atual Presidente da República promulgasse o diploma, pois, este é o seu primeiro mandato e ele irá a eleições dentro de um ano. De igual forma, o diploma alargaria um fosso enorme entre a classe política e a sociedade. Apesar do diploma ter sido aprovado na casa parlamentar, quase por unanimidade, há muita coisa em jogo e era muito arriscado para o futuro político do presidente se ele se afastasse do povo que o elegeu.
Os grandes vencedores deste jogo Político foram: a atual líder do PAICV, Dr.ª Janira Hopffer Almada, que cedo se demarcou da aprovação do referido diploma, aproveitando o momento político para fazer a sua consagração como presidente do PAICV e o Presidente da República, Dr. Jorge Carlos Fonseca, que demonstrou elevação e sentido de Estado ao chumbar politicamente o diploma.

Jonathan Vieira.  


domingo, 5 de junho de 2016

Brava e os Caminhos para o futuro: Olhar para o passado, resolver os problemas do presente e perspetivar o futuro

A Brava é herdeira de uma história gloriosa: No passado, fomos a capital administrativa da colónia, geramos ideias, tivemos atividade industrial e temos uma herança invejável na formação dos recursos humanos, da qual a formação dos marítimos é um legado indelével da nossa história. Todavia, o nosso maior feito terá sido o nosso contributo à emancipação da identidade Cabo-verdiana, através da cultura.  
Hoje é necessário olhar para o passado, resolver os problemas do presente e perspetivar o futuro: Que ilha queremos ter no futuro e o que podemos fazer, hoje, para construirmos este futuro perante os desafios atuais?

A realidade da Brava é preocupante. A ilha vive no período da mais longa recessão que a nossa pequena economia já conheceu e os dados assim o demonstram: Somos a economia que menos contribui para a geração de riqueza nacional, entre 0.8 -1% do PIB nacional, temos a mais alta taxa de desemprego do país, cerca de 18, 5%, e a nossa população tem diminuído de forma considerável. 

Estes são dados que nos devem preocupar, pois, houve, no passado, muitas gerações que lutaram para edificarem uma ilha que se vem desvanecendo ano-após-ano.
 Assim, assistimos, nos últimos anos, à um declínio contínuo, sem que haja uma estratégia programática de desenvolvimento para a ilha.  

 Se analisarmos o contributo da economia das ilhas, para o PIB nacional, ao longo dos anos, nos apercebemos, facilmente, que há uma enorme heterogeneidade na economia Cabo-verdiana: O centro do país tem estado a se afirmar como sendo o grande contribuidor para o produto interno nacional e algumas ilhas, como a Brava, têm perdido espaço. A economia baseada nos serviços não tem permitido que a ilha desenvolva os seus sectores estratégicos, que possibilitem gerar riqueza, criar emprego e aumentar o rendimento para as famílias. O crescimento débil da ilha não tem acompanhado o ritmo acelerado de desenvolvimento do país, na última década, e as mudanças que vão ocorrendo, sobretudo, no que toca ao desenvolvimento dos fatores de competitividade.

Os avanços que se deu na educação, as qualificações humanas e a investigação produzida continuam afastados da ilha. O fraco aproveitamento, pelas empresas, da qualificação dos recursos humanos continua a ser um problema estrutural na nossa economia. Este facto advém, em grande medida, da circunstância das empresas não terem introduzido as inovações decorrentes dos avanços tecnológicos, o que impossibilitou à ilha de tirar partido da maior qualificação dos recursos humanos para ganhar eficiência e competitividade. 

A conjuntura da ilha é marcada por uma crise gravíssima, que se traduz numa diminuição acentuada da população, num desemprego crescente e numa baixa produtividade da economia. Por isso, é cada vez mais visível a necessidade de haver uma agenda económica para a Brava: uma agenda que garanta o desenvolvimento sustentável da ilha, que se concentre no crescimento económico, no desenvolvimento de sectores estratégicos, na diversificação e alargamento da base produtiva, mas também, que integre a emigração no desenvolvimento local. 

Só tem futuro quem consegue tirar vantagem do passado, e o passado da Brava constitui um ativo, que não podemos desperdiçar, para construirmos o futuro. A nossa história e cultura constituem valores centrais para o nosso desenvolvimento que, infelizmente, temos desperdiçado. O desenvolvimento passa, necessariamente, pela existência de uma agenda económica que possibilite a criação de emprego, assente na introdução das novas tecnologias de informação e comunicação no meio empresarial, mas também, que permite, igualmente, o reforço dos sectores estratégicos, com mais inovação, eficiência e produtividade, para que possamos tirar vantagens dos avanços dos últimos anos, nomeadamente, a melhoria do sector dos transportes.

A ilha Brava só tem futuro se conseguir estar na linha da frente das transformações que Cabo Verde precisa, para enfrentarmos estes tempos desafiantes, marcados por uma grande incerteza. 
Jonathan Vieira.
https://naalvorada.blogspot.pt/