O desemprego é hoje um dos
problemas que mais afeta Cabo Verde, sobretudo, o desemprego jovem. Os avanços
que o país conseguiu nas últimas décadas, à nível da educação, nomeadamente, a
expansão do acesso ao ensino superior fez com que muitos jovens pudessem aceder
ao ensino superior, ambicionando, que no futuro possam vir a exercer uma
profissão nas respetivas áreas de formação. Porém, a realidade apresenta-nos um
cenário preocupante, uma vez que, os espaços que se lhes abrem são cada vez
mais escassos. Tudo isto acontece num cenário no qual a descrença num futuro
melhor parece perpetuar, passando a mensagem de que o futuro, se o quisermos,
terá de ser fora da nossa terra, apresentando-se a emigração como via única.
A descrença no desenvolvimento da nossa terra
é uma realidade que, se não é falada abertamente, é muito fácil de se ler nas
entrelinhas do debate político onde sobressaem ideias de uma eterna falta de
trabalho, impossibilidade de contratação, entre outros, que são de facto,
preocupantes, para uma ilha que se quer desenvolver, modernizar e ambicionar um
futuro risonho.
A
realidade apresenta-nos duas gerações com ideias diferentes, com qualificações
diferentes, com formas de pensar e de atuar também diferentes mas unidos por um sentimento de cariz
desenvolvimentista que busca a construção de uma ilha e de um país melhor.
Por
isso acho mau que, com discursos inflamados ou com atitudes pouco louváveis, se
queira criar um conflito inter –
geracional, que em nada ajuda o desenvolvimento, mas que ao contrário, só
prejudica uma ilha que precisa de todos para se afirmar e desenvolver.
A
geração mais nova, muitas vezes, academicamente melhor preparada, queixa-se da
falta de espaço que encontra no mercado de trabalho, enquanto a geração mais
velha, por outro lado, não reconhece a preparação dos jovens culpando a
inexperiência destes para ocuparem cargos que exigem alguma responsabilidade.
Desta forma podemos identificar dois grupos etários com interesses divergentes:
Enquanto uns querem preservar os seus lugares nos seus respetivos postos de
trabalho, outros espreitam a tal oportunidade que cada vez mais escasseia.
Este
conflito não é, quanto à mim, um facto isolado, ele é o reflexo dos dias
turbulentos nos quais vivemos, num mundo cada vez mais exigente, marcado pela
crise e pela competitividade, quer a nível individual quer a nível empresarial,
onde a qualificação, quer pelos graus académicos quer pela experiência e
capacidade de inovação, são cada vez mais, fatores cruciais na determinação do
sucesso das organizações.
Falar
desse conflito não deve ser um tabu mas sim um dos assuntos que merece
relevância pela sua importância no contexto interno, onde sobressai um
desemprego estrutural que afeta sobretudo os mais jovens, que se esforçaram,
que utilizaram recursos familiares e públicos na formação académica e que agora
não encontram espaço para dar o seu contributo, pondo em causa a boa utilização
destes mesmos recursos.
É
preocupante ouvir vozes que insistem que não há espaço para contratações na
administração pública dada a conjuntura. Espanta-me que numa ilha onde há muito
trabalho por fazer se diga perentoriamente que os jovens não têm lugar, sendo
os jovens o futuro. Considero também que, uma
ilha onde não há lugar para os jovens é uma ilha sem futuro, pois, se eles
são o futuro, o futuro deve ser preparado hoje.
A
criação de emprego não deve ser apenas criação de emprego líquido direto mas
sim a criação de condições que incentivem investidores das outras ilhas ou até
mesmo internacionais, e para isso, as condições a nível das infraestruturas de
Saúde, segurança energética , fornecimento regular de agua potável, ligação
marítima regular, segurança, facilitação à nível da burocracia do Estado, entre
outros, são condições que não criam emprego diretamente mas que possibilitam e
incentivam os investidores.
É
minha convicção que a Brava precisa de todos para se desenvolver, da geração
mais velha com o seu saber e a sua experiência para que, juntamente com os mais
jovens, procurem um futuro risonho para todos. Cabo Verde é um país sem
recursos, pelo que o futuro, depende da audácia, da capacidade de inovação e da
busca do conhecimento.
O
conhecimento é o caminho...
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