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domingo, 29 de maio de 2016

Sociedade civil e partidos políticos em democracia: A realidade de Cabo Verde

"Somos seres eminentemente políticos". Esta frase dita há milhares de anos atrás é ainda valida para a nossa sociedade atual. Na verdade, a política e a procura do bem comum, encontram-se no cerne da atividade humana, porém, poderemos nos questionar: Será que a democracia se resume aos partidos políticos?
Nas nossas vidas quotidianas quando um cidadão começa a falar sobre um tema de interesse geral, não é muito difícil, que a terceira ou quarta pergunta seja esta, dí qui partido bó é? (qual é o teu partido?). Isto é o mais comum na maioria das conversas que todos nós temos uns com os outros, porque muitas vezes, reduzimos a democracia aos partidos políticos e à sua atividade.
Para lidar com um determinado problema local, a nossa primeira reação é, muitas vezes, nu bai tchoma autoridade, es tem qui resolveno nós problema! (Vamos chamar a autoridade, eles têm que resolver o nosso problema!).
De facto, isto é o reflexo da nossa visão da democracia, centramos tudo nos partidos políticos e no Estado, e não damos espaço para participação da sociedade civil, que nas democracias modernas, tem um papel importantíssimo. Em todo o mundo, os movimentos sociais alastram-se, mudando a realidade e desempenhando um papel fundamental de fiscalização e de ação, influenciando, desta forma, o exercício do poder.
Desta reflexão não podemos omitir o papel, também ele, importante, que os partidos políticos, representam na sociedade, por conseguirem agregar as mais diversas visões da sociedade em torno daquilo que consideram ser do interesse da população e que através do exercício do poder, pretenderão implementar.
Se os partidos políticos são importantes, o exercício da democracia não se resume à sua atividade. Infelizmente, ainda, se organizarmos uma manifestação ou qualquer ato público, que seja do interesse geral, é muito fácil sermos conotados com partidos políticos ou, até mesmo, não participamos pelo receio de nos ligaram à atividade político-partidária.
A liberdade de associação e de expressão, entre outras, são direitos e garantias constitucionais que não servem se ficarem apenas no papel, mas sim se forem vivenciadas, porque a lei fundamental do país assim o consagra. Por isso, quando qualquer cidadão começa a falar, em vez de fazermos a pergunta de que partido é ele, é altura de perguntarmo-nos porque é que ele fala de um determinado assunto, e qual é o contributo para a melhoria da sociedade da qual fala.
Há uma sociedade para além dos partidos políticos e quanto mais a sociedade civil for dinâmica, participativa e eloquente mais sai a ganhar Cabo Verde, um país que em termos democráticos tem feito progressos notáveis, sendo visível não só pelo facto de termos uma democracia estável e exemplar no contexto africano, mas também pelo nível do debate politico, que de uma forma branda tem aumentado de qualidade, e que se traduzem numa melhoria significativa das condições de vida das pessoas e nos ganhos que o país tem tido ao longo dos anos.
É necessária uma sociedade civil que participa no debate político e nos partidos políticos, mas que não se restringe a ela, porque, para além dos partidos políticos, há o interesse das pessoas e há, sobretudo, o bem comum, o alicerce da nossa organização social.

Jonathan Vieira

sábado, 28 de maio de 2016

O desafio dos partidos políticos: ou se adaptam ou não servem ao país

Um dos temas que mais tem gerado interesse nos últimos tempos é a incapacidade das democracias ocidentais em representarem os seus cidadãos. Nas palavras de Winston Curchill , “a democracia é a pior forma de governo, exceptuando todas as outras formas de governo experimentadas”. Sem colocar em causa o modelo, é bem visível que os cidadãos sentem-se menos representados, o que deu origem a um enorme afastamento dos cidadãos em relação à política e a vida político-partidária.
Ao contrário do que, muitas vezes se pensa, em qualquer democracia que se preze é muito preocupante que os cidadãos tenham uma atitude de afastamento em relação à política, o que acontece, porque ela é vista como um elemento de conflitualidade social e afastado da vida dos cidadãos, e não como um meio de discussão ideológica e programática para a prossecução do bem comum.
À este afastamento surgem, cada vez mais, tentativas de se ocupar este espaço político, dos cidadãos não representados, o que suscitou a perceção que não havia partidos políticos suficientes, ou que, os que existem, são incapazes de representarem os seus concidadãos. Esta incapacidade de representação deu origem, em alguns casos, à partidos políticos assentes no populismo, e em outros casos, à um aumento vertiginoso da abstenção eleitoral.
Este facto é um desafio aos partidos políticos no sentido de se abrirem à sociedade civil e serem elementos atuantes na construção de ideias e de consensos no meio social, caso contrário, as máquinas partidárias, se não conseguirem cumprir o papel fundamental que lhes é reconhecido, correm o risco de se tornarem, de facto, em elementos obsoletos nas sociedades.
É uma falácia pensar que com mais partidos políticos os cidadãos serão melhores representados e para uma realidade político-partidária como Cabo Verde, um país arquipelágico com poucos recursos e com três partidos dominantes, com papéis determinantes nos maiores ganhos do país, a independência e a democracia, a solução, a meu ver, não será enviesarmos pelo caminho de um aumento crescente do número dos partidos políticos existentes.
Os amanhas que cantam neste Cabo Verde que queremos construir, irão ser muito exigentes: para um país arquipelágico e desprovido de recursos a capacidade dos cidadãos em encontrarem, de forma criativa, soluções que criem condições para a construção de um país próspero, passará por uma maior agregação de vontades, no qual os partidos políticos terão um papel fundamental.
Aos partidos políticos surgem, também, novas formas de participação social, como é exemplo o II fórum de transformação Cabo Verde 2030, transmitido em directo através da internet para toda a diáspora, e do qual saíram importantes contributos para para o futuro do país.

Neste novo contexto emergente, ou os partidos políticos, se adaptam, ou se tornarão elementos arcaicos numa realidade muito exigente para o país. É vital que se crie consensos baseados numa ampla discussão sobre o futuro do país, nos seus diversos quadrantes, e que os partidos políticos se esforcem na agregação de vontades na construção de um país dinâmico, competitivo e inovador. 

Revisitando o Desemprego Jovem na Brava

O desemprego é hoje um dos problemas que mais afeta Cabo Verde, sobretudo, o desemprego jovem. Os avanços que o país conseguiu nas últimas décadas, à nível da educação, nomeadamente, a expansão do acesso ao ensino superior fez com que muitos jovens pudessem aceder ao ensino superior, ambicionando, que no futuro possam vir a exercer uma profissão nas respetivas áreas de formação. Porém, a realidade apresenta-nos um cenário preocupante, uma vez que, os espaços que se lhes abrem são cada vez mais escassos. Tudo isto acontece num cenário no qual a descrença num futuro melhor parece perpetuar, passando a mensagem de que o futuro, se o quisermos, terá de ser fora da nossa terra, apresentando-se a emigração como via única.
 A descrença no desenvolvimento da nossa terra é uma realidade que, se não é falada abertamente, é muito fácil de se ler nas entrelinhas do debate político onde sobressaem ideias de uma eterna falta de trabalho, impossibilidade de contratação, entre outros, que são de facto, preocupantes, para uma ilha que se quer desenvolver, modernizar e ambicionar um futuro risonho.
A realidade apresenta-nos duas gerações com ideias diferentes, com qualificações diferentes, com formas de pensar e de atuar também diferentes mas unidos por um sentimento de cariz desenvolvimentista que busca a construção de uma ilha e de um país melhor
Por isso acho mau que, com discursos inflamados ou com atitudes pouco louváveis, se queira criar um conflito inter – geracional, que em nada ajuda o desenvolvimento, mas que ao contrário, só prejudica uma ilha que precisa de todos para se afirmar e desenvolver.
A geração mais nova, muitas vezes, academicamente melhor preparada, queixa-se da falta de espaço que encontra no mercado de trabalho, enquanto a geração mais velha, por outro lado, não reconhece a preparação dos jovens culpando a inexperiência destes para ocuparem cargos que exigem alguma responsabilidade. Desta forma podemos identificar dois grupos etários com interesses divergentes: Enquanto uns querem preservar os seus lugares nos seus respetivos postos de trabalho, outros espreitam a tal oportunidade que cada vez mais escasseia. 
Este conflito não é, quanto à mim, um facto isolado, ele é o reflexo dos dias turbulentos nos quais vivemos, num mundo cada vez mais exigente, marcado pela crise e pela competitividade, quer a nível individual quer a nível empresarial, onde a qualificação, quer pelos graus académicos quer pela experiência e capacidade de inovação, são cada vez mais, fatores cruciais na determinação do sucesso das organizações.
Falar desse conflito não deve ser um tabu mas sim um dos assuntos que merece relevância pela sua importância no contexto interno, onde sobressai um desemprego estrutural que afeta sobretudo os mais jovens, que se esforçaram, que utilizaram recursos familiares e públicos na formação académica e que agora não encontram espaço para dar o seu contributo, pondo em causa a boa utilização destes mesmos recursos.
É preocupante ouvir vozes que insistem que não há espaço para contratações na administração pública dada a conjuntura. Espanta-me que numa ilha onde há muito trabalho por fazer se diga perentoriamente que os jovens não têm lugar, sendo os jovens o futuro. Considero também que, uma ilha onde não há lugar para os jovens é uma ilha sem futuro, pois, se eles são o futuro, o futuro deve ser preparado hoje.
A criação de emprego não deve ser apenas criação de emprego líquido direto mas sim a criação de condições que incentivem investidores das outras ilhas ou até mesmo internacionais, e para isso, as condições a nível das infraestruturas de Saúde, segurança energética , fornecimento regular de agua potável, ligação marítima regular, segurança, facilitação à nível da burocracia do Estado, entre outros, são condições que não criam emprego diretamente mas que possibilitam e incentivam os investidores.
É minha convicção que a Brava precisa de todos para se desenvolver, da geração mais velha com o seu saber e a sua experiência para que, juntamente com os mais jovens, procurem um futuro risonho para todos. Cabo Verde é um país sem recursos, pelo que o futuro, depende da audácia, da capacidade de inovação e da busca do conhecimento.
O conhecimento é o caminho...


                                                                                                                                                                    Jonathan Vieira 

A preservação do Património Imaterial

Quando falamos de património cultural podemos de identificar claramente duas tipologias de património bem visíveis na vivência povos: São eles o património físico, material ou arquitetónico e o património imaterial, entrando no campo dos valores e da própria cultura.
Poderíamos refletir sobre o nosso património cultural arquitetónico, realçando o facto de recentemente a Cidade de Nova Sintra ser considerada património cultural nacional, o que devia ser motivo de satisfação para todos os cidadãos que ali residem, por ser o reconhecimento das especificidades desta Cidade e pelo valor intrínseco que ela representa, contudo, penso que esse título, deverá ser motivo de uma análise mais cuidada, uma vez, que um título, não poderá vir a ser um obstáculo ao desenvolvimento, mas antes, deve ser enquadrada numa estratégia de desenvolvimento.
O cerne da questão que trago hoje, porém, não tem a ver com a preservação do património físico e material, mas sim, para a preservação do património cultural Imaterial, o qual carece de uma profunda reflexão.
 A cultura numa análise minimalista, é aquilo que nos define como povo, e são vários os traços culturais imateriais que nos definem como tal. Porém, não vivemos só neste mundo, que é nosso e de todos, vivemos num mundo cada vez mais globalizado, onde o fluxo de informação é cada vez maior, diminuindo as distâncias e aumentado a comunicação entre as pessoas. Assim, os traços culturais dos povos estão sujeitas a diversas mutações que vão moldando a nossa cultura, conforme a aceitação ou não das pessoas, colocando em perigo a própria cultura local.
A nossa cultura é marcada por traços que nos identificam, traços que estão sujeitas a padrões valorativos, contudo, é cada vez mais eminente a necessidade de preservação dos traços que definem o nosso povo, neste mundo globalizado, e é cada vez mais necessário que a sociedade tome consciência deste fenómeno, e que a discuta, aceitando modelos que são, de facto, uma mais-valia para a nossa riqueza cultural, mas criticando e atuando socialmente, de igual modo, contra os padrões que colocam em risco as nossas especificidades culturais que queremos preservar.
Neste ponto, as instituições e as organizações da sociedade civil, têm um papel muito importante, começando, desde logo, pela família, a primeira e a mais importante das instituições socias, passando por outras, como a escola, as organizações da sociedade civil, a igreja, entre outros, que neste mundo globalizado, têm um papel fundamental na preservação cultural, e na própria formação dos indivíduos.
Essa preparação é fundamental não só para os indivíduos que residem em Cabo Verde, mas também, para os indivíduos que escolheram outros países para viverem.
 Não deve ser negligenciado o facto, de hoje, muitos cabo-verdianos infelizmente estarem nas portas da justiça em muitos países que fazem parte da nossa diáspora, com comportamentos que não dignificam nem representam a nossa cultura, uma cultura de paz social, que tanto nos orgulha.

Atendendo a nossa realidade local, marcada pela falta de recursos, e as oportunidades que a nossa emigração encontra nos países acolhedores, é preocupante que muitos dos nossos patrícios desperdiçam estas oportunidades, enviesando pelo mundo da criminalidade, com comportamentos que conotam uma imagem negativa para o nosso país.
A formação dos indivíduos e a preservação dos nossos valores e da nossa cultura deve servir de base para uma boa organização social nacional, mas também, na formação das pessoas que constituem a nossa emigração e que são parte desta grande nação apelidada, tantas vezes, de Nação Global.



Jonathan Vieira

Hospital Regional para as ilhas do Fogo e da Brava

O bem comum está acima de qualquer opção política ou ideológica e é tendo isto, sempre, bem presente que escrevo aos meus concidadãos.
Soube por fontes oficiais que se encontra neste momento, em vias de construção, um hospital regional para as ilhas do Fogo e da Brava. A melhoria das condições de prestação de serviços de saúde é sempre de salutar e, de facto, Cabo Verde tem tido uma evolução no acesso aos serviços de saúde que se tem refletido no aumento da esperança média de vida e no índice do desenvolvimento humano.
Sem desconsiderar estes factos, uma obra pública tem sempre como objetivo suprimir uma determinada necessidade e a prossecução de uma determinada política para atingir um determinado fim. A construção de um hospital regional terá de corresponder as necessidades de uma região, ou seja, das ilhas do Fogo e da Brava.
 Por experiência própria, para se deslocar a ilha do Fogo demora-se no mínimo 30 minutos, sem contar com outros condicionalismos como a disponibilidade de transportes, o tempo, etc. que poderão condicionar a viagem de uma ilha para a outra, e em questões de saúde, tudo é importante.
Sem me apoiar em argumentos bairristas, não me é difícil, constatar que das instituições que servem as duas ilhas a maioria está sediada na ilha do Fogo. Se queremos construir uma região sólida, e se for esse o desígnio, temos de garantir que essa construção tenha em conta a justiça e equidade necessária. Não se pode, numa região, criar dinâmicas socias e económicas numa ilha em detrimento da outra. As regiões se devem desenvolver tendo em conta as especificidades de cada uma das partes e o contributo que elas podem gerar para o todo regional: Por exemplo, porquê é que não se construiu as escolas de formação profissional na Brava, uma vez, que dispomos de um ambiente calmo e propiciador para os estudos. 
Na questão da saúde, um hospital regional terá de corresponder as demandas das duas ilhas e um hospital regional poderá suprimir algumas falhas, mas não todas. Considero, por isso, importante, que o nosso hospital local tenha boas condições de prestação de serviços de saúde, capazes de, em casos de urgência, responder na nossa ilha à estes casos com capacidade para garantir que os doentes estejam estáveis, até conseguirem ser eventualmente evacuados.
Acredito que, pela nossa dimensão, não seria realista que pretendêssemos que a Brava tivesse condições de saúde como a cidade da Praia ou outros grandes centros urbanos, mas acredito, seriamente, que poderemos ter melhores condições de prestação de serviços de urgência, tendo em conta o nosso historial de catástrofes naturais: como o mau tempo e pequenos abalos sísmicos, mas também, devido ao facto de sermos ilhas, e a deslocação estar dependente do transporte marítimo, que nem sempre poderá estar disponível; Do tempo que poderá não favorecer a viagem entre as ilhas, entre outros condicionalismos.
Por último, faço um apelo aos nossos eleitos nacionais e municipais que defendam o interesse dos Bravenses, pois, “a centralização” dos serviços descentralizados do Estado na ilha do fogo tem causado enormes transtornos aos cidadãos da Brava que sentem que a deslocação para ilha do Fogo, poderia ser evitada e que se justifica, que certos serviços, sejam prestados ao nível local.
Nesta época especial queria endereçar aos leitores da Bravanews, os meus votos de um Feliz Natal e um ano novo repleto de sucessos nas nossas vidas pessoais, mas sobretudo, para que 2014 seja um ano bom para a nossa ilha.
 Jonathan Vieira

manuelvieira19@live.com.pt

Tempos de Crise



Vivemos em tempo de crise, apesar de nem sequer termos uma participação ativa na sua emergência, a verdade é que ela atinge a tudo e a todos sem exceção. A globalização dos fenómenos e dos processos fez com que a economia mundial mergulhasse numa profunda recessão, iniciada pela crise imobiliária de 2007-2008 nos Estado Unidos, e que rapidamente se internacionalizou. A Europa foi confrontada em 2009 com a crise das dívidas soberanas, o que a obrigou a reduzir de forma drástica a despesa pública dos Estados Europeus. Estamos, pois, falando de duas entidades políticas importantíssimos para Cabo Verde, sendo a Europa o seu principal parceiro económico. Nesta conjuntura, ninguém fica imune aos sacrifícios, exigindo de todos uma postura adequada ao tempo presente.
Cabo Verde, como país pobre que é, não é dotado de recursos que lhe permita garantir a autossuficiência para alcançar um desenvolvimento considerável a médio longo-prazo, por isso, o seu desenvolvimento é em grande parte financiado por países estrangeiros, através de um modelo de cooperação que engloba empréstimos, ajudas orçamentais, entre outros, com os quais tem sido ao longo dos anos levados a cabo vários projetos que têm contribuído para a construção de infraestruturas, com um impacto significativo na melhoria das condições de vida dos cidadãos.
A crise traduz-se, não só, na redução das ajudas externas ao Estado, mas também, na redução das exportações, num fluxo menor de turismo, numa menor quantidade de investimento estrangeiro, e ainda na diminuição das remessas dos imigrantes, cujos dados do Banco de Cabo Verde apontam para uma redução na ordem dos 23,1% em termos homólogos.
 A nossa vulnerabilidade face ao cenário internacional nos coloca numa posição verdadeiramente difícil. OS Estado Unidos e a Europa são importantíssimos para Cabo Verde: Albergam grande parte da nossa comunidade emigrante, são entidades com os quais desenvolvemos excelentes relações comerciais e no caso específico da Europa, mais concretamente com Portugal, com o qual o nosso país tem um acordo de cooperação cambial. São ainda os principais financiadores de programas de desenvolvimento, como as tranches do programa Millenium Chalenge Account são prova.
A crise das dívidas soberanas que se abateu sobre os países da Europa tem exigido dos governos uma redução excecional da despesa pública à custa de muita contestação social, da mesma forma, que o povo habituado a viver com muito e sem preocupação, acostumado a ter sempre um aumento salarial em vez da redução, foi apanhada desprevenida.
A situação para os nossos parceiros é preocupante, e o facto, é que ela afectará de forma decisiva o nosso desenvolvimento. Para um país que depende muito da ajuda externa o caminho a seguir é a redução gradual da dependência face ao exterior, criando mecanismos que permitam explorar ao máximo as nossas potencialidades, como o sol, o mar ou o nosso posicionamento geoestratégico, que facilmente ganham eco no discurso político, mas que na prática muito pouso se tem feito.
O primeiro passo para enfrentarmos esses tempos difíceis, será sem dúvida a boa governação e uma boa gestão dos recursos, que por enquanto, temos a nossa disposição, para que possamos criar uma economia forte e competitiva e garantirmos uma boa integração no mercado internacional e fazermos, de facto, do nosso país um lugar atractivo ao investimento. 
A boa gestão que não pode ser confundida com uma gestão pouco ambiciosa e demasiada apegada a conjuntura. A crise tem o outro lado da moeda: deve servir de estimulo a criatividade e a audácia, de resto, penso ser este o que implicitamente afirmou o nosso Primeiro-Ministro, numa declaração no inicio do ano, onde afirmou que “2013 será o quê que os Cabo-verdianos quiserem” e este é o espirito pelo qual nos devemos nortear nestes tempos difíceis, tentado atenuar os impactos das dificuldades atuais, mas vislumbrando o futuro, pelo qual não devemos temer, mas agir hoje para que ela possa ser o melhor possível.
A história de Cabo Verde nos ensina que não nos devemos resignar face às conjunturas, por pior que elas sejam, e foi assim que se construiu este país e é assim que vencemos e devemos continuar a vencer as nossas dificuldades. Hoje somos um país de rendimento médio, a batalha do desenvolvimento não está ganha, bem pelo contrário, os desafios que se nos colocam são cada vez mais exigentes e exigem de todos um esforço cada vez maior, face aos nossos condicionalismos internos marcada pela escassez de recursos, mas também, por um cenário internacional pouco favorável.
                                                                                                                                                                                           Jonathan Vieira 

Brava: Regionalização e Desenvolvimento

Nos últimos tempos se tem acentuado no país o debate sobre a regionalização, no qual o modelo mais consensual parece ser o de região-ilha. Esse processo, independentemente do fim que venha a ter, terá importantes consequências no panorama nacional, e o país como um todo terá de responder à esse grande desafio que visa implementar uma efectiva descentralização do poder. Ela só fará sentido se consubstanciar em pleno desenvolvimento, sendo essa uma das principais motivações para que o país encarasse a regionalização como um caminho seguro para o desenvolvimento. Regionalização e desenvolvimento são pois uma realidade integrada.´

Em qualquer quadro no qual se venha a desenrolar o processo da regionalização é indispensável que estejamos atentos as consequências que daí advenham, mas também que nos posicionemos para que as nossas oportunidades de desenvolvimento sejam salvaguardadas. O desafio da regionalização será enorme: estamos falando da ilha que provavelmente tem menos propensão para o turismo, com um mercado interno pouco desenvolvido e por consequência uma das economias mais pequenas do arquipélago. Enfrentamos sérias desvantagens relativamente as outras ilhas, desde logo, o nosso posicionamento periférico em relação ao centro do poder mas também pela nossa dimensão.
A realidade da Brava nos últimos tempos  é de facto preocupante: o nosso mercado interno, por si só, pequeno, não cresceu, um cenário pouco encorajador para o investimento privado.
A falta de crescimento económico reflectiu-se numa diminuição acentuada da população: Dados do INE, demonstram que, em 1940 a nossa população era estimada em cerca de 8.528, diminuindo em 1990 para 6.985 e em 2010 a população residente foi contabilizada em cerca de 5.995 confirmando a tendência decrescente da nossa população.
Vários fatores poderão estar na origem desse fenómeno, sendo o mais provável, a falta de crescimento económico e as suas inevitáveis consequências em relação ao desemprego, um problema estrutural em Cabo Verde, e que assume proporções ainda mais dramático numa ilha sobretudo rural, agudizando ainda mais a matriz cultural que a emigração envergou por estas paragens.
Este cenário é um claro declínio de uma ilha que me parece reticente em relação ao desenvolvimento, há uma necessidade clara de uma estratégia pragmática de desenvolvimento e uma definição clara dos sectores nos quais a nossa ilha se deve ancorar para uma real integração na economia nacional.
Para uma pequena economia como a nossa não há uma solução milagrosa que nos possa colocar na rota do crescimento, contudo, uma verdadeira integração dos vários sectores da nossa pequena economia parece-me um desafio que a médio longo prazo devia ser considerado para que se possa consolidar um mercado interno muito debilitado.
Sem se saber ao certo o desfecho do processo da regionalização a nossa ilha terá de se preparar para este desafio, pois, ela acarretará importantes consequências administrativas e politicas o que implicará uma preparação adequada seja qual for que venha a ser o cenário. A regionalização irá definir uma geografia concorrencial diferente do que existe hoje no arquipélago. Nos moldes que se tem definido o processo, cada ilha terá uma maior autonomia delegada pelo poder central, mas também um maior encargo no sentido de se desenvolver a nível local contribuindo dessa forma para o todo nacional.
Qualquer política que se queira desenvolver não se pode basear na pura reação aos fenómenos, mas sim na antecipação destas, caso contrario, poderemos sofrer sérias consequências em relação há um processo em curso e que poderá destabilizar e até aniquilar as nossas hipóteses de desenvolvimento.
O regionalismo é certamente um processo importante e um caminho seguro para o desenvolvimento do nosso país, a sua implementação deverá ter em conta a equidade e igualdade de oportunidade de progresso para todos os cidadãos e ilhas de cabo verde.

                                                                                                                                                                                           Jonathan Vieira